quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

[Opinião] "O Menino de Cabul", de Khaled Hosseini [Editorial Presença]



Autor: Khaled Hosseini


Páginas: 336

Género: Romance

Saiba mais sobre esta obra AQUI

Crítica por Ana Filipa Ferreira, do Blog Parceiro Illusionary Pleasure, para o Blog Os Livros Nossos:

    O Menino de Cabul, com a chancela de qualidade Editorial Presença é uma história que nos conquista depois de ser lida e não durante. A narrativa deixa no leitor um paladar nostálgico e a história do país de Hosseini torna-se nossa. Não admira os autores do médio oriente darem-se tão bem em Portugal, tal como o nosso povo, também eles estão cheios de sentimentos de nostalgia, do passado que contrasta sempre com o presente. Tal como os portugueses que vivem nas glórias dos nossos antepassados, Hosseini invoca a doçura e alegria de viver numa Afeganistão sem talibãs e sem o pesadelo do terror que o povo afegão sofreu. Existe uma harmonia entre Os Terraços de Teerão e O menino de Cabul, ainda que estes dois sejam passados em dois locais diferentes. O estilo de narrativa todo ele evoca um passado pacífico com memórias de uma infância tranquila para dar lugar a uma adolescência turbulenta e a uma idade adulta repleta de fantasmas.

   As personagens do Menino de Cabul acompanham este estado de decadência. São elas que dão voz à beleza das paisagens e, ao mesmo tempo, descrevem a destruição do seu país e das suas memórias. Amir e Hassan representam dois mundos opostos, Amir filho de famílias ricas, Hassan um hazara que serve Amir. Amir peca, erra e toma muitas vezes decisões erradas, tentando agradar ao pai Baba e tentando ser o melhor de forma a conseguire reconhecimento dele. No entanto a sua relação com Hassan oscila entre a servitude e a amizade e descobrimos que no meio de um Afeganistão em escombros e doente não importa a condição social, não importa a guerra, importa não esquecer o passado nem as pessoas que contribuíram para as nossas memórias. E, de um momento para o outro, assistimos a uma história de redenção, de esperança e de felicidade.

   Ao contrário dos autores portugueses, os escritores do médio oriente terminam sempre com uma mensagem para o futuro. Porque eles acreditam que um dia esse futuro irá mudar e o país da infância e da inocência voltará para que os seus filhos possam aproveitar e viver o que os pais experienciaram. As crianças representam o futuro que merece ser salvo. O nosso país é bonito, quem está à frente dele pode ser corrupto ou pode fazer com que o detestemos tanto que escolhemos outro sítio para nos acolher. Através de Amir, Hosseini mostra que a nossa pátria fica dentro do nosso coração e que não o importa o quanto somos maltratados por ele. O nosso coração está na pátria e ninguém nos pode roubar o que nos vai no coração, mesmo que essa pátria já não seja aquela que conhecemos e esteja a milhares de quilómetros de distância. 

   O menino de Cabul é um Bildungsroman que nos leva a sonhar com um sítio que já não existe, que não passa de memórias de personagens que provavelmente existiram. Esta história é sobre três meninos, onde cada um sofreu a ira da mudança, do racismo e do abandono. Tal como Hosseini, também nós sonhamos com um Afeganistão pacífico, onde não há violência nas ruas e onde as pessoas não são perseguidas. A reposta para esta esperança de futuro só virá com as gerações seguintes que conseguirem regressar do seu longo exílio para recuperar o lugar descrito ao longo das primeiras páginas.




Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigada pela sua opinião. Os comentários serão previamente sujeitos à moderação da administração da página e dos autores do artigo a que digam respeito, antes de publicação.