segunda-feira, 18 de abril de 2016

[Crítica Contemporânea] "Vamos Comprar um Poeta", de Afonso Cruz [Caminho]

Ficha Técnica:


Título: Vamos Comprar um Poeta


Autor: Afonso Cruz


Editora: Caminho [Grupo Leya]


Edição: Março de 2016


Páginas: 104


Género: Juvenil/ficção contemporânea


Classificação atribuída no GoodReads: 5/5 Estrelas


[Sinopse]:

Numa sociedade imaginada, o materialismo controla todos os aspectos das vidas dos seus habitantes. Todas as pessoas têm números em vez de nomes, todos os alimentos são medidos com total exactidão e até os afectos são contabilizados ao grama. E, nesta sociedade, as famílias têm artistas em vez de animais de estimação. 
A protagonista desta história escolheu ter um poeta e um poeta não sai caro nem suja muito – como acontece com os pintores ou os escultores – mas pode transformar muita coisa. A vida desta menina nunca mais será igual...
Uma história sobre a importância da Poesia, da Criatividade e da Cultura nas nossas vidas, celebrando a beleza das ideias e das acções desinteressadas.


Crítica por Isabel Alexandra Almeida para o Blog Os Livros Nossos:

Vamos Comprar um Poeta é um surpreendente grande pequeno livro da autoria de Afonso Cruz. Porque os livros, tal como as pessoas, não se medem pela extensão, mas pela qualidade, pela essência, pela personalidade própria, pela originalidade e pela capacidade de nos tirar da zona de conforto e de nos abanar a alma, e é precisamente isto que este pequeno grande livro faz connosco.

A premissa inicial é, desde logo, interessante, numa sociedade em tempo indeterminado, algures no futuro, a narradora participante descreve-nos uma sociedade materialista onde tudo é visto de modo quantificado ou quantificável, até mesmo as emoções, e os nomes sujeitos são meras combinações de números onde o peso das dízimas diz algo sobre a preponderância social de cada indivíduo.

Numa elegante prosa plena de ironias e toques de humor, entramos na intimidade de uma família [ a da nossa narradora] constituída pela própria, pelos pais e pelo irmão, e iremos conhecê-los quando se predispõem  a comprar um Poeta, visto que não suja e é relativamente fácil de manter em casa para entretenimento da família, sem consequências de maior na rotina de cada um [assim pensam os membros desta família].

E o Poeta chega a instala-se, ou melhor dizendo, é instalado num espaço exíguo num vão de escada e irá revolucionar a vivência economicista, quantificada e limitada deste núcleo familiar.

A sociedade imaginária narrada neste livro tem algo de assustadoramente familiar...embora esteja caricaturada e levada ao extremo, perdeu valores culturais, menospreza o conhecimento, a criatividade o peso e a relevância da imaginação, sendo impensável e mal visto socialmente desenvolver uma actividade intelectual que se afaste do campo dos números, da economia, da lógica fria do lucro e dos ilusórios prosperidade e crescimento.

Com inúmeras referências culturais, que são depois esmiuçadas em notas no final da obra, este livro tem o condão de nos fazer rir de nós próprios e do mundo que estamos a construir, sendo um belíssimo exercício contemporâneo do lema ridendo castigat mores de Gil Vicente.

A ler, a reler, a coleccionar, a recomendar e a reflectir de quando em vez! Parabéns Afonso Cruz.







2 comentários:

  1. Nunca tinha ouvido falar desse livro, mas adorei a resenha, adorei a sinopse e adorei a capa. Já quero ler! :)
    Beijo

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