segunda-feira, 31 de outubro de 2016

[Guest Blogger - Conto de Halloween] #3 - Encontros na Madrugada [Anita dos Santos]


Um conto de Halloween pela escritora Anita dos Santos, para o Blog Os Livros Nossos.






Encontros na Madrugada

Era inverno.
Os dias eram curtos e cinzentos pontuados pela chuva, ora forte acompanhada pela trovoada, ora aquela chuva que parece ofuscar os olhos de tão fina, envolvendo tudo num silêncio ensurdecedor.
O amanhecer era tardio e, a claridade do dia terminava abruptamente cedo.
Para mim, amanhecia muito mais cedo, visto ter de apanhar várias – três nem menos – camionetes de carreira para chegar ao trabalho, durante um percurso de três longas horas.
Nunca gostei especialmente do frio e da chuva. E de ter de andar a calcorrear as ruas pela madrugada, debaixo de chuva, ainda menos.
Noite cerrada às cinco e quarenta da manhã.
Na rua não se vê viva alma.
O caminho desde minha casa para a estação da camionagem, com o percurso mais curto, passa pela azinhaga por trás do cemitério, trajeto que evito sempre que posso.
Chove. Aquela chuva que parece uma nuvem de nevoeiro, bem cerrado, mas que não dá para abrir chapéu. Os candeeiros só começam a surgir lá mais a baixo, por ali não há nada, só a pouca luz da lua embaciada e de uma ou outra estrela que teimosamente se mantem no céu.
Na rua só se ouve o ruido dos meus passos a pisar as pedras da azinhaga e a esmagar a terra do caminho. Por fim chego ao asfalto e, solto um suspiro.
Cheguei aos candeeiros. Falta ainda passar o portão do cemitério…
Aperto o passo de cabeça baixa para evitar a chuva.
Quando passo o portão do cemitério e chego à rampa da descida seguinte, penso “por fim!”. E estaquei de repente no meio da estrada.
Encharcada, magra e pequena, olha-me de frente com olhos arregalados como pratos por entre a chuva desde o meio da estrada!
Ficámos por uns momentos como que suspensas no tempo, os olhos de uma nos olhos da outra.
Não sabia se devia respirar ou não. O coração batia-me a mil!
De repente, em três saltos bem medidos, pulou para a moita mais próxima da berma, as longas orelhas a abanar e o pelo espetado por todo o lado numa figura deplorável!
Permaneci, no meio da estrada, ainda por instantes, e depois soltei uma gargalhada, com a mão na barriga ainda encolhida.
Tinha tido o meu primeiro encontro imediato de terceiro grau com uma lebre, que pelos vistos ficou tão assustada como eu!


[Sobre a autora]:


Anita dos Santos é natural de Alcântara, Lisboa, residindo há mais de uma década na Ericeira com o seu marido e filhos.

Depois de trabalhar trinta e nove anos na área financeira, sem horários nem tempo pessoal, dá por si com todo o tempo disponível.

A sua paixão sempre foram os livros. Mas não só. O sonho de escrever esteve sempre presente.

Agora, com o tempo, nasceu o sonho com o seu primeiro livro “Crónicas de André e Vicente – O Bosque dos Murmúrios”.

Este ano, em Outubro, Anita lançou o segundo livro "Crónicas de André - A Cidade das Brumas"

Visitem a página da autora no Facebook AQUI

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

[Histórico] "Os Espiões do Papa", de Mark Riebling [Editorial Presença]


Ficha Técnica:

Título: Os Espiões do Papa

Autor: Mark Riebling

Colecção: Biblioteca do Século

Edição: Outubro de 2016

Editora: Editorial Presença

Nº de Páginas: 424

Nota: O exemplar da obra foi gentilmente cedido pelo editor para artigo de crítica literária.

Saiba mais detalhes sobre a obra AQUI





Crítica por Isabel Alexandra Almeida para o Blog Os Livros Nossos com jornal Nova Gazeta:


O ensaio histórico Os Espiões do Papa, integra a colecção Biblioteca do Século, com chancela Editorial Presença, e reúne todas as características necessárias para se tornar numa obra de referência, sustentada sobre um excelente edifício de  pesquisa de relevantes arquivos e documentos que retratam o ambiente da espionagem e contra-espionagem envolvendo o Vaticano e o Papa Pio XII no decurso da II Guerra Mundial.

Mark Riebling destaca-se pela proeza de ter produzido um ensaio histórico sério, credível, mas que proporciona uma leitura acessível, entusiasmante e que agarra o leitor de forma sólida, ao longo de toda a narrativa, revelando-nos personagens fortes, corajosas e que conquistaram, por direito próprio, o seu lugar na história contemporânea, sendo de destacar Pio XII, que chegou mesmo a ser injustiçado ao ser considerado apoiante do regime Nazi e de Hitler, o que não poderia estar mais longe da verdade, conforme decorre da leitura desta obra.

Assume papel de relevo nesta narrativa Josef Müller, advogado Alemão, um homem carismático, íntegro, destemido e inteligente, que nunca hesitou em arriscar a própria vida em nome dos ideais de liberdade e democracia nos quais acreditava, assumindo o controlo e organização de diversas iniciativas de espionagem, fazendo a ligação entre o Vaticano e as forças religiosas civis e militares que, sob o signo do segredo, procuravam pôr fim à barbárie causada pelo Nazismo. Um protagonista verdadeiramente fascinante, com o qual empatizamos facilmente.

É perceptível ao leitor a posição bastante delicada em que Pio XII se viu colocado, uma vez que agir em nome do Vaticano - um Estado Autónomo - poderia agudizar ainda mais a já visível tensão de uma Europa em Guerra e colocar em risco princípios de Direito Internacional e actuar enquanto figura de proa da Igreja Católica poderia colocar em risco a segurança do Vaticano, perante a ameaça Nazi. Muitas vezes, Pio XII calou perante o mundo a sua dor e a sua revolta perante a perseguição e destruição de milhares de Judeus, é, portanto, um homem humano e solidário  aquele que aqui encontramos, a par do político e diplomata hábil, astucioso e algo frio que tantas vezes a história procurou apresentar.

A leitura desta obra surge como uma verdadeira pedrada no charco em termos daquilo que sempre tivemos por certo acerca deste período negro da história contemporânea da Europa e do mundo. Por vezes, os factos históricos, tal como nos são transmitidos inicialmente, dão azo a generalizações erróneas. O presente ensaio mostra-nos toda a rede de resistência interna Alemã ao regime Nazi, o apoio discreto mas eficaz do Vaticano a estas acções.

Interessante também são as reflexões no âmbito da filosofia política e religiosa que permitiram a estes homens justificar perante o mundo e perante as próprias consciências a eventual necessidade de cometimento de tiranicídio na pessoa de Hitler.

Com a estrutura própria de uma obra de ficção, onde nem sequer falta uma elevada dose de permanente suspense, perigo e intriga, heróis e vilões, justiça e injustiça, tudo em crescendo até ao desenlace final, num ritmo e envolvência verdadeiramente arrebatadores.

Brilhante, assente numa sólida base de pesquisa, e bastante revelador. Indispensável para quem goste de história.


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

[Guest Blogger] #2 O lançamento de "Vaticanum", de José Rodrigues dos Santos, na perspectiva de uma fã [São Martins]

São Martins é leitora viciada e fã assumida do autor Português José Rodrigues dos Santos.

São esteve presente no lançamento do 16º romance do autor - Vaticanum - e conta-nos como foi e o que sentiu;


O jornalista e escritor José Rodrigues dos Santos acaba de lançar o seu 16º romance, com o título Vaticanum. O romance está à venda desde o passado dia 6 do corrente mês, tendo a apresentação tido lugar no passado Sábado, dia 8, pelas 17 horas, na Sociedade de Geografia de Lisboa, onde estiveram presentes cerca de 700 pessoas. A apresentação esteve a cargo de João Paulo Batalha, director executivo da Associação Cívica Transparência e Integridade. A cerimónia contou ainda com uma representação teatral, a cargo do grupo de teatro amador de Tomar Fatias de Cá, onde foi representada uma das cenas mais marcantes da obra: o rapto do Papa por fundamentalistas islâmicos. Houve ainda espaço para uma actuação do grupo de canto gregoriano do Instituto Gregoriano de Lisboa, a quem coube a abertura da cerimónia. 

A cerimónia de apresentação deste 16º romance do autor teve, como habitualmente, a característica de não se limitar a ser uma apresentação de um livro na forma tradicional. Além da sessão de canto Gregoriano , houve como já referi a encenação de uma pequena peça de teatro, que retratou uma das passagens do romance. Esta representação teatral teve as suas características muito peculiares e momentos de humor. Os exemplos mais característicos aconteceram quando a personagem do Papa explicou que tinha decidido ir à apresentação daquele livro, pois ao ver a fotografia do autor, tinha concluído que um homem com umas orelhas assim seria seguramente capaz de ouvir a palavra da salvação. Houve também o momento em que a personagem Tomás Noronha referiu que se o José Rodrigues dos Santos estava à espera que ele lhe chamasse pai, podia esperar sentado. O momento mais forte da pequena peça foi, no entanto, quando o Papa foi levado e o próprio autor entrou na brincadeira e, no seu tom de reportagem de guerra, pediu às pessoas para manterem a calma, para não entrarem em pânico, nem abandonarem a sala, pois ia tentar perceber a razão daquele imprevisto. Confesso que houve ali umas fracções de segundo em que receei que o feitiço se tivesse virado contra o feiticeiro e, por coincidência, estivesse mesmo a acontecer alguma coisa terrível.

A cerimónia foi seguida de uma sessão de autógrafos.
José Rodrigues dos Santos, o escritor que é, neste momento, o que mais vende em Portugal, contando já também com livros editados com sucesso em países como França, Espanha e Bulgária, nasceu em Moçambique, na Beira, no dia 1 de Abril de 1964. Viveu os primeiros anos da sua vida naquela antiga colónia portuguesa, tendo vindo viver para Portugal aos 10 anos. Numa primeira fase, depois da separação dos pais, que aconteceu logo após o regresso, viveu com a mãe, em Lisboa, mas os problemas económicos desta levaram a que fosse, juntamente com o irmão, cinco anos mais novo, viver com o pai e a família deste, para Penafiel, norte do país. Foi com o pai e o irmão que viajou para Macau aos 15 anos, tendo regressado a Portugal aos 17, a fim de estudar Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, onde veio posteriormente a ser professor-auxiliar até há pouco tempo atrás, cargo que terá deixado por falta de disponibilidade.

 Terminada a licenciatura, decidiu usar o dinheiro da herança do pai, entretanto falecido, para estagiar em Londres , na BBC. Ao voltar a Portugal, ficou ao serviço da RTP, onde continua a trabalhar como pivot do Telejornal e, ocasionalmente, ainda como repórter. Na vida pessoal, José Rodrigues dos Santos é casado há 28 anos com Florbela Cardoso e tem duas filhas, Catarina, de 25 anos e Inês, de 18. 

Este 16º trabalho literário, Vaticanum, traz de volta o seu protagonista mais conhecido, Tomás Noronha e é centrado na corrupção que existe dentro da Igreja Católica, tendo início com o rapto do Papa.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

[Guest Blogger] #1 Porque também de nós reza a "estória" [Madalena Barreto Condado]


Damos início a uma nova rubrica no blogue, onde contaremos com guest bloggers.

A primeira convidada é a escritora Madalena Barreto Condado, que nos conta a sua experiência como repórter no lançamento do segundo livro da escritora Anita dos Santos.

O texto que aqui publicamos integra a rubrica semanal de crónicas que Madalena assegura no jornal digital Diário do Distrito



"Porque também de nós reza a "estória"


Não somos ninguém e somos toda a gente. Somos filhas, mães, avós. Somos quem somos. Nada nos liga e tudo nos atrai. Somos sonhadoras. Perdemos umas vezes e ganhamos outras tantas. Mas acima de tudo não deixamos de acreditar. Acreditamos que o amanhã será melhor do que o hoje, levamos os nossos sonhos sempre mais além, entramos numa corrida de obstáculos e sabemos que alcançámos a nossa meta quando olhamos à nossa volta e sentimos que o nosso trabalho importa não é somente mais um entre tantos. Afinal somos novas autoras, mas com tanto para contar. E no sábado passado esse foi o momento da Anita dos Santos.

Num encontro no magnífico Clube literário da Chiado Editora, onde com casa cheia foi apresentado o seu segundo livro. Na mesa ladeada pelas suas duas oradoras convidadas e a sua representante editorial a Anita irradiava a sua própria luz. Não pensem, contudo, que era um momento para mulheres. Não! Era um momento para leitores, para nós que continuamos a gostar de ter um livro nas mãos, de o folhear, de cheirar as suas páginas, de mergulhar nesses mundos fantásticos onde somos sempre de alguma forma surpreendidos.   

É um dia de sentimentos díspares sabemos que uns vão amar a nova criação pelo que comporta e outros vão odiá-la pela mesma razão. Mas para o seu criador é sempre mais um bocado de si que tão amavelmente oferece. Acabaram os meses de escrita onde em cada página fica tanto, uma lágrima, um sorriso, um nome, um momento, um local, uma saudade que nunca acaba. E já no final surge aquela capa pois não poderia ser outra.

Confesso que o que mais me marcou neste novo livro, foi o desenho do mapa feito pelo marido e por um dos filhos da autora. E não é que faz todo o sentido, afinal quando escrevemos fazemo-lo porque temos o apoio incondicional das pessoas mais importantes na nossa vida e elas correspondem-nos com a mesma intensidade. 

Não posso deixar de me congratular por saber que ficou no ar a promessa de que a estória não acaba por aqui afinal o André e o Vicente ainda têm tanto para nos contar.

E foi assim no passado sábado a apresentação da Anita com a sala cheia, com todos os pormenores bem delineados. Envelopes azuis escondidos nas costas de algumas cadeiras com frases que eram lidas pela assistência. Imagens de árvores espalhadas por toda a sala onde a curiosidade não deixa de ser que os Druidas do livro têm os seus nomes. Um pequeno teatro em que a autora contou com a colaboração de dois leitores presentes no público, a leitura de alguns excertos do livro e muito, muito mais.
Quando terminou foi difícil vir embora, mas fi-lo com a certeza de que esta estória tem continuação e gostava de me despedir utilizando as palavras da própria autora: 

“As palavras que lia não seriam muito diferentes daquilo que escrevo hoje, pelo menos na minha imaginação”

Desejo-te muito sucesso Anita dos Santos e se me permites vou mergulhar n’ “A Cidade das Brumas”.